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quarta-feira, 26 de março de 2014

Crítica do filme: "Intocáveis"


O filme dos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache é um misto entre o drama e a comédia. Com uma narrativa não linear, Intocáveis (2011) instiga o espectador logo na primeira cena. Sem esclarecer muito ao público, os diretores trabalham neste primeiro momento com uma sequência repleta de cortes e com a utilização do primeiro plano e de closet no rosto dos protagonistas.
Essa escolha ressalta o belíssimo trabalho de atuação dos atores François Cluzet e Omar Sy que dão vida aos personagens Philippe (um tetraplégico rico) e Driss (um negro ex-presidiário).
A intenção da direção é abordar como tema principal: o preconceito. Não por acaso os diretores mostram diversos candidatos brancos e apenas um negro. Em seguida, eles mostram a sofisticação e riqueza do local. Para contrastar, mostram a simplicidade e informalidade de Driss, o único negro presente na sala.
Cansado de esperar o "negão" fura a fila e entra sem ter permissão. Ao conversar com Philippe e sua secretária, Driss demonstra que não está interessado no trabalho, mas sim que assinem o documento que dá o direito ao seguro desemprego. Sua espontaneidade, sinceridade e atrevimento chamam a atenção do deficiente físico, Philippe.
Mas a questão é: como confiar em um preto, pobre e desempregado? Essa é a principal indagação dos empregados de confiança de Philippe. Os personagens começam a desconfiar de Driss porque ele é um canastrão, que zoa tudo e todos. Não tem jeito, todos nós passamos a desconfiar de Driss também.
Nós, meros, espectadores ficamos receosos quanto à "criatura" estranha e completamente fora de contexto. Por mais "politicamente correta" que a pessoa seja, duvido que não pense: Isso vai dar merda! Até porque as escolhas de enquadramentos e discursos do diretor nos leva a ter esses pensamentos.
É inevitável não fazermos o nosso julgamento de valor. Infelizmente isso acontece muito na vida real. Não julgamos e condenamos apenas um personagem de filme, mas também o flanelinha da rua, o lixeiro, o colega de trabalho, enfim, todos que convivem ou cruzam nossas vidas.
Eric Toledano e Olivier Nakache levantam justamente esta questão. É absolutamente improvável que o relacionamento entre um malandro e um "aristocrata" desse certo. As pessoas estão tão impregnadas de preconceitos que julgam umas as outras antes mesmo de lhes dar uma chance. E é exatamente a forma com que os diretores tratam esse assunto, que encanta os espectadores, resultando no sucesso de público do filme.
Os diretores trabalham os diversos tipos de preconceito: o racial e social vivido pelo personagem negro e pobre Driss, o sexual da secretária ruiva e lésbica, e o preconceito contra o deficiente físico, muito bem representado pelo personagem Philippe.
Driss ensina a Philippe a quebrar regras, fugir da rotina e a ser destemido. Mesmo sendo politicamente incorreto, quando, por exemplo, oferece um baseado ao tetraplégico, o garoto malandro cria certa empatia com o público. Já Philippe fica com o papel de bom moço que ensina as boas maneiras, cultura e passa conhecimentos que talvez o Driss jamais teria acesso
Eles são quase dois irmãos que possuem uma amizade tão grande que nada pode destruir. Mulher, dinheiro e nem mesmo o preconceito conseguiram manter o abismo social existente entre os dois. A amizade deles é simplesmente intocável e inabalável. Ela está acima de qualquer preconceito e julgamento de valor.



Um comentário:

  1. Boa crítica, mas atenção com os parágrafos: só se muda de parágrafo, quando se muda o assunto.

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