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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Nem tudo que é bom vem de fora

Artigo

Priscila Ludolf

Os protestos contra a Copa estimularam a reflexão sobre o quão conscientes somos - ou não - da nossa cultura e das nossas raízes. Entendo que, após  tantas "chibatadas", nosso grito de socorro, inevitavelmente, ecoou e já não aguentamos mais. Queremos melhorias, queremos direitos, queremos dignidade. E nós merecemos.

Entretanto, penso que, de tanto apanhar, criamos - quase involuntariamente -  um forte complexo de inferioridade que serviu de estímulo para que enaltecêssemos e cultuássemos o quem vem dos outros, o que, ingenuamente,  é considerado melhor. E é esse sentimento que nos faz, por vezes, como agora, "esquecer" nossa identidade.

Somos o país do futebol, do samba e da feijoada. Com muito orgulho! Mas também somos o país de um povo batalhador, que sabe ser hospitaleiro e que não foge à luta diária. Torcer pela seleção, pelo esporte que é do povo, não significa aceitar as crueldades políticas e sociais que nos são impostas.

Honestamente, não acho que os fins justifiquem os meios, porém (confesso) quando se trata de samba, por exemplo, sim, minha "moral" bambeia. Mas veja bem: o "fim" que me corrompe não é o glamour da Sapucaí, é senão o dia a dia que compõe um ano inteiro. São as "minhas" raízes, a "minha" história. O samba é "meu", assim como o futebol também, quer "queiram" ou não. Posso não concordar com a maneira como algumas coisas funcionam, mas não me perdoaria se renegasse minhas raízes!

Por essas e outras, é que não devemos mais fingir que a magia e o espetáculo não nos contagiam.  Como diria o cantor e compositor Jorge Aragão, em uma de suas letras, "não dá pra fugir dessa coisa de pele, sentida por nós, desatando os nós, sabemos agora, nem tudo que é bom vem de fora (...) Arte popular do nosso chão, é o povo quem produz o show e assina a direção".

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